A minha luta, a nossa demanda, a sua decisão

José Torres da Costa

José Torres da Costa

A minha luta é pela liberdade. Uma liberdade cívica que assumimos enquanto médicos, o dever de servir a sociedade e cada doente com integridade. A minha luta é pela verdade e pela responsabilidade de avaliar as políticas de saúde com espírito crítico reconhecendo os méritos, mas também apontando o caminho e as mudanças necessárias para uma medicina mais justa, transparente e comprometida com os seus princípios

A nossa demanda deveria ser contra o medo. Um medo que se instalou por entre a nossa classe e cristalizou nas várias estruturas e patamares profissionais. Um medo que impede de sermos agentes livres, verdadeiros pilares da regulação do sistema. Um medo que existe desde a escolha da especialidade, uma escolha feita com base no mérito e visão do nosso próprio futuro, mas que muitas vezes, demasiadas vezes, só é assumida depois de se garantir que a nossa opção não ultrapassa a vontade de outrem. É um medo progressivo, que frequentemente surge logo no início e nos persegue ao longo de toda a carreira. O interno tem medo do orientador, este receia um diretor de serviço que muitas vezes, demasiadas vezes mais não é que uma correia de transmissão de poderes superiores. Porém, também ele tem medo. Também ele tem um chefe, uma tutela de cujos humores depende. É toda uma cadeia de medos, de medos aos mais variados níveis e dimensões, um medo que obsta a que se decida em consciência e no interesse do doente, um medo pós-moderno, performativo, um medo que nos impede de sermos genuínos e nos impele a agir e acordo com a imagem que queremos que os outros tenham de nós. A nossa demanda deveria ser contra este medo alimentado por sicofantas empoderados apenas por dispensarem vigilância apertada. Este ciclo pode ser quebrado com uma governança transparente, baseada no mérito e na valorização real dos médicos, onde a independência e a liberdade profissional sejam princípios inegociáveis.

A sua decisão é determinante para que o sistema não dependa dos médicos em formação, aqueles a quem muitas vezes são exigidas horas suplementares até à exaustão emocional e que se empenham até o “burnout” ser evidente e as suas consequências ultrapassarem o domínio pessoal. Demasiadas vezes, as nossas exigências profissionais parasitam a nossa esfera pessoal, esgotam a nossa capacidade de ir além de uma vida profissional e assentam na maior parte das vezes numa limitação consentida à nossa liberdade. Demasiadas vezes, somos subjugados por um clima de medo, e imposições que extravasam não raras vezes o exercício desta nobre profissão.

A minha luta é pela reposição de um regime de carreiras claro, transparente, previsível e do conhecimentos de todos. Luto contra carreiras “à la carte”, de acordo com a retribuição a favores, limitação de liberdades, ou como forma reconhecimento de submissão. Luto por carreiras médicas justas, claras, aplicadas aos profissionais do SNS, como também, a tantos outros que noutros sistemas de saúde exercem a sua profissão. Luto por um sistema de carreiras diferenciador pela competência e pelo reconhecimento de um percurso, e não por uma janela de oportunidades para compensação de fidelidades.

A nossa demanda é por uma Ordem dos Médicos verdadeiramente independente, transparente e dedicada exclusivamente à defesa da classe. Defendemos uma estrutura livre de influências externas, onde os seus dirigentes atuam com total autonomia, sem compromissos paralelos ou subordinações. Acreditamos na separação clara de poderes, garantindo que cada decisão seja tomada com base no interesse dos médicos e dos doentes, e não em agendas externas. Apenas assim teremos uma Ordem forte, justa e fiel à sua missão.

A Ordem dos Médicos não pertence a um nome nem a um tempo. Ela é um compromisso contínuo, passado de geração em geração. O que fazemos hoje molda o futuro da profissão, e os que vêm a seguir não só continuarão este trabalho, como nos superarão. Construímos aos ombros de gigantes, honrando o passado e preparando o caminho para que a próxima geração vá ainda mais longe.” A nossa missão não é apenas corrigir os erros do presente, mas também assegurar que os vindouros encontraram uma Ordem mais confiante, mais transparente e mais preparada para os desafios da medicina do futuro. O nosso compromisso deve ser com a construção de bases sólidas, onde a próxima geração possa inovar, crescer e exercer a medicina com dignidade e liberdade. Uma Ordem que respeita o seu passado e projete o seu futuro como Ordem independente e representativa.

A sua decisão é importante para superarmos erros de longa data e devolver a independência a cada médico. A sua decisão é importante para que a Ordem dos Médicos tenha uma voz ativa, independente de todos os poderes, isenta e clara sobre estas e muitas outras questões. A sua decisão é importante, eu por mim farei a minha parte com empenho e transparência.

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